Talvez eu só esteja muito emotiva e nada disso tenha sentido, mas espero que não seja o caso, porque estou bem cansada de não entender o que está acontecendo, justamente por conta das minhas emoções bagunçadas. Hoje eu tenho esperanças de que, apesar de tudo, eu esteja seguindo uma linha de raciocínio coerente.
Passei as últimas semanas tentando descobrir onde as coisas começaram a dar errado. E eu voltei no tempo, e continuei voltando, e fui mais um pouco ainda. Voltei seis anos. Sendo bem sincera, eu esperava ter encontrado o erro antes, me decepciona notar que eu levei seis longos anos pra perceber que as coisas estavam tomando rumos bastante equivocados.
Eu não considero que tive uma adolescência conturbada, principalmente porque fui uma daquelas pessoas cheias de convicções fortes demais para serem corretas quando vindas de uma pessoa com tão pouca experiência de qualquer coisa. É um palpite, mas acho que quando você é obrigado pelos pais a estar em casa às dez da noite, conhecimento consistente de vida não é uma coisa que você adquire. De uma maneira ou de outra, pelo bem ou pelo mal, essas convicções me ajudaram um pouco a passar por essa fase cheia de dúvidas com um pouco menos de desespero. Foi ali, dos 14 aos 18, eu sabia o que eu queria, quem eu era, ponto final.
Ser solta no mundo de verdade foi que começou a bagunçar as coisas, até ali eu tava só tirando pequenas provas da vida. É uma comparação meio ridícula, mas sinto que até os 18 eu tava jogando aquela versão free, e depois eu comprei o jogo e percebi que, porra, tinha muito mais coisa pra fazer que eu nem tinha me dado conta. Foi mais ou menos nessa época que as minhas convicções me abandonaram, eu deixei de ser um copo cheio e deixei as experiências me ensinarem.
Aos 18 eu cometi meu primeiro erro sério. Eu mudei quem eu era por alguém. Não sei, as pessoas por aí falam sobre esse assunto como se fosse realmente muito nobre, como se fosse o esperado você mudar por alguém. Atualmente, não acho que seja. Eu entendo as concessões que fazemos pra estar com alguém, entendo a ideia de se adequar. Mudar não, as pessoas são o que são, e se não podem estar ao lado de alguém por isso, então elas realmente não deveriam estar lá.
Então sim, ao 18 eu mudei. Eu me deixei ser emocionalmente dependente de alguém. Até aquele momento eu era inteira, e me sentia completa comigo mesma, tão completa que na maior parte do tempo eu não queria ninguém se intrometendo nos meus assuntos. Eu não entendia a solidão até então. E aí, porque o cara por quem eu estava apaixonada era o sujeito mais carente que a humanidade já conheceu, eu mudei. Ele não estava feliz comigo, porque eu dificilmente me dispunha a estar com ele. E eu já tinha tentado não estar com ele algumas vezes, também não rolava, foi aí que eu pensei que talvez o erro estivesse em mim.
É muito fácil depender de alguém. Nossa! É absurdamente fácil. Eu doei tudo de mim pra ele, cada segundo que eu tinha livre era dele. Aí ele decidiu que estava sufocado, é, pode rir. Foi desse jeito que eu descobri que não adianta você mudar por ninguém. Foi desse jeito também que eu descobri a solidão. Eu descobri que a solidão é um estado de espírito, ultrapassa o sentido físico da palavra, porque quando você se sente verdadeiramente só, não importa quantas pessoas estejam ao seu redor. E quando ele saiu da minha vida, foi assim que eu me senti, total e completamente abandonada. Provavelmente foi mais aterrador porque no meio do caminho eu perdi um pedaço de mim, de quem eu era. Eu estava só porque também estava sem eu mesma. Guarde isso! Passaram seis anos, eu ainda não estou completamente curada disso. Se você decidir mudar por alguém, pense muito bem no tamanho da violência que está cometendo contra você, porque a gente sempre se recupera de perder alguém, a vida é assim mesmo, mas pra se recuperar de perder a você mesmo… Isso é um processo lento e doloroso.
Pra reparar esse erro, eu cometi um bem mais longo, um que durou quatro anos. Eu procurei alguém pra afugentar a solidão, eu me agarrei a isso com muita força. Mas as vezes se agarrar a uma coisa não quer dizer perseverança, quer dizer teimosia. Eu vou ser muito sincera aqui, o amor que eu sentia era grande demais, eu não entendia, não sabia lidar, até hoje eu não sei, mas agora eu pelo menos entendo. Amar demais uma pessoa que não te faz bem é nocivo, te corrói por dentro. Porque eu sabia que tava tudo errado, eu sabia que não era pra ser difícil daquele jeito, que não era pra eu sofrer tanto, não era pra eu ter que me esforçar tanto.
Foi nessa época que eu descobri um segundo tipo de solidão. Estar só dentro de um relacionamento. Isso é mais que um estado de espírito, é um fardo que você carrega o tempo todo, porque você percebe que ninguém pode preencher o que falta em você, e mais, percebe que estar com uma pessoa e ter uma pessoa que seja sua companheira são coisas completamente diferentes. E eu passei anos tentando compensar isso. Eu quis fazer qualquer coisa pra compensar o que me faltava, porque eu tinha quase certeza que era pro amor ser suficiente.
Passei os últimos dois anos batendo cabeça nessa confusão. Eu esbarrei com um monte de gente que queria ocupar o espaço que ele não ocupava. Mas no fundo, mesmo que ele não tomasse como dele aquele lugar, ele o pertencia, e ninguém jamais conseguiria toma-lo, não enquanto eu não abrisse mão de guarda-lo com tanta força. Foram dois anos absurdamente difíceis. Eu abusei de mim, do que eu sentia, do que eu era capaz, do que eu podia. Na verdade, eu descobri que eu podia qualquer coisa que eu quisesse. E eu me joguei de cabeça.
Eu tive a sensação de estar conquistando o mundo, mas na verdade era só o mundo me engolindo mesmo.
Não mais.
Nos últimos cinco meses eu finalmente decidi que era hora de colocar um fim naquilo tudo. Sabe o amor? Ele não é suficiente, nem de longe.
Eu saí disso tudo cheia de cicatrizes, aliás, eu ainda tenho várias feridas abertas. E só eu sei quanto dano eu causei também, em um monte de gente. “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” e eu vou te dizer, eu fui bem negligente com o que eu cativei.
O saldo geral dos últimos seis anos computa: eu perdi uma parte de mim, eu dei partes de mim, eu me magoei, eu magoei de volta, eu cometi um monte de erros, eu tenho um monte de culpa com a qual lidar. Mas mais importante que tudo, eu cresci e amadureci.
Saí dessa confusão toda tendo aprendido a me respeitar, a me amar, a pensar um pouco antes de agir, eu reaprendi como estar só, sem me sentir sozinha. E com o tempo eu vou recuperando aquele brilho de uns anos atrás, afinal, como dizem, não há mal que sempre dure.